A DEPRESSÃO tropical Ana, que há dias assolou províncias do Centro do país, é mais uma prova da necessidade urgente de o país se preparar para uma maior resiliência a fenómenos idênticos. Assim escrevemos porque temos a certeza de que mais ciclones, com intensidades diferentes, assola-rão o país, em grande parte devido à sua localização geográfica.
Como “Ana”, os próximos furacões causarão luto e dor nalgumas famílias bem como desalojarão milhares de moçambicanos. Será como antes e agora, uma altura para correr atrás do prejuízo, pegando na calculadora para fazer as contas de como recuperar o que o mau tempo levou. Ou seja, para quem já tinha meio caminho andado será difícil aceitar que a única saída é recomeçar.
Não escrevemos à toa, ainda há, sobre “Ana”, vídeos e fotografias a circular nas redes sociais. Mostram fenómenos arrepiantes como, dentre outros, carros a capotarem e chapas de zinco a voarem. Recordamos que quando “Ana” chegou a ponte sobre o rio Revúbuè, em Tete, não resistiu à sua força e caiu, “ignorando” que há pouco tempo beneficiou de obras de reabilitação. Inclusive, se “esqueceu” que fora construída para resistir, durante muitos anos, a fenómenos como este.
Logo, com a ponte e muitas outras construções destruídas, reacendeu o debate sobre a qualidade das infra-estruturas públicas e privadas. Neste sentido, a sua não resiliência é preocupante, principalmente quando se sabe que qualquer dia o mau tempo pode anunciar desgraças e estarmos, como se diz na gíria popular, “ferrados”. Escrevemos com a memória repleta de imagens ainda recentes de fenómenos terríveis, como o ciclone Idai, um dos maiores que alguma vez assolaram a costa moçambicana e cujas consequências são ainda hoje visíveis.
E o “Idai”, mesmo assim, é apenas um exemplo de vários outros que podíamos dar. Com este histórico, não podemos deixar de nos preocupar com os estragos causados pelos ciclones e, deste modo, repisamos estar mais do que na hora de se pensar em construções resilientes a estes fenómenos. Entendemos que a constante evolução da tecnologia é uma grande vantagem na redução dos impactos dos ciclones, já que não os podemos paralisar, pois através dela o Instituto Nacional de Meteorologia (INAM) anunciou que vem aí mais um ciclone ido do Madagáscar, podendo entrar no Canal de Moçambique nos próximos dias e assolar as províncias de Inhambane e Sofala. Ou seja, podemos investir ainda mais em tecnologias para saber quando e que tipo de tempestade está a chegar, donde e como vem, bem como identi-ficar zonas de maior risco.
É verdade que neste momento não se pode fazer muito contra a depressão, que já está a caminho, para além de apelar às populações a se mudarem para zonas seguras, mas, conforme dissemos, trazemos um desafio futurista. Para as próximas ocasiões pensemos em fazer de zonas e infra-estruturas aparentemente inseguras em espaços seguros e resilientes ao mau tempo.
Não queremos com isso ignorar a rebeldia daqueles que invadem lugares de risco, indo contra as imposições dos municípios, no entanto podemos perceber que estas destruições acontecem em lugares também considerados seguros. Estamos vulneráveis. Acrescente-se a necessidade de se responsabilizar os construtores, que são pagos por fazer o não proposto no contrato. Se também pague pelos diversos danos causados sempre que uma infra-estrutura se danifica antes do tempo previsto.
A impunidade é inimiga de qualquer país que almeja o desenvolvimento.
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