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Dançar contra preconceitos

Perguntámos ao coreógrafo e bailarino Lulu Sala por que dança. E ele foi simples, mas profundo na resposta: “danço porque a dança é vida, existe em mim e sempre fez parte dos momentos e processos da minha existência”.

Para ele, esta arte é uma ferramenta indispensável para a promoção do bem-estar. “A dança liberta a alma. Por isso, todas as vezes que subo ao palco renasço”.

Sala é um sobrevivente. Contra todas as barreiras, atravessou o período crítico da pandemia da covid-19, mas não esconde o quão foi desafiador: “No início da pandemia, acreditávamos que seria algo que durasse três meses, apenas.

Seis meses depois, a coisa começoua assustar. Entrámos em pânico e percebemos que não podíamos fazer mais nada naquele momento”.

Para marcar as celebrações do Dia Internacional da Dança, este ano, Lulu Sala preferiu deixar de lado qualquer projecto individual e juntar-se a outra nata de artistas, todos sob direcção de Casimiro Nhussi, na preparação de “Kwomba Kwa Indico”, um musical que contou com a colaboração de artistas como Stewart Sukuma, Muzila Malembe, Lucrécia Paco, Cândida Mata, Dodó, Paulina Chiziane, Xixel Langa, entre outros. Para ele, a dança atravessa um momento estável no país. “Ela vive em nós como povo moçambicano.

Com a abertura das casas de pasto, as pessoas têm tendência a celebrar tudo com a dança. Mas, na vertente profissional, vamos levar dois anos para voltar ao nível em que estávamos. O nosso nível de preparação físico baixou drasticamente durante a pandemia da covid-19”.

Outro desafio que se impõe é colocar a dança na rota das indústrias culturais. “É fundamental que se faça o povo acreditar na importância deste trabalho e a questão dos honorários deve ser debatida”.

A falta de espaços para a realização de espectáculos é um problema já antigo, mas Lulu Sala afirma que é complicado não falar deste problema. “Lutamos todos por uma meia-dúzia de salas. É fundamental que nos lembremos que não podemos fazer trabalhos ao improviso.

Os espaços alternativos não podem ser só porque não temos outros. Quando a gente começa a desenrascar perde-se a qualidade”.

Igualmente, Sala acredita que a formação de novo público é pertinente, se o país quiser ver as suas diferentes manifestações culturais valorizadas. “Estamos atrasados nesta questão de inclusão das artes no currículo escolar. Já temos o ISARC, o entrave agora é que se começa a estudar dança aos 18 anos, no ensino superior. Estamos a falhar, porque não há um processo preparatório”.

O artista reconhece que ainda há preconceitos no mundo da dança. “E vem de pessoas supostamente formadas. Muitos encarregados acreditam que quando o rapaz dança é porque tem tendências ao homossexualismo, o que está errado. Outros acreditam que quem se ferma em dança terá problemas financeiros no futuro, que a arte não garante nada. Está errado”…